segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL: UMA ANÁLISE DO AVIVAMENTO À INSTITUCIONALIZAÇÃO

Neste capítulo, serão mostradas algumas percepções históricas da fundação e expansão da CCB. Uma breve análise cronológica do contexto histórico do Brasil em seu processo de colonização é de total relevância para contextualizar o movimento pentecostal. Com isso, a pesquisa está voltada para uma análise sociológica empírica dos frequentadores e membros da CCB. Por um lado, a Sociologia Compreensiva de Max Weber (1991) traz subsídios para entender o mundo social com base nas ações dos indivíduos inseridos no contexto. Por outro lado, de acordo com os apontamentos de Monteiro1 (2010), em decorrência da colonização portuguesa, o território brasileiro passou a receber influência da cultura e Igreja Católica, a qual foi a religião oficial e única com liberdade de expressão dos ritos por quatro séculos que, por sua vez, pode ter influenciado movimentos religiosos como da CCB. 1.1 Contextualização do Campo Religioso Brasileiro na Primeira Onda do Pentecostalismo A contextualização dos movimentos religiosos se dá por meio histórico entre os pentecostais do campo religioso brasileiro com o termo onda. Alguns grupos se adequam mais a uma “história anedótica” do que documental (ANTONIAZZI, 1994). A contribuição de Freston2 (1994) é colocada na pesquisa pelo aprofundamento no estudo voltado para o Protestantismo brasileiro e seus contextos, didaticamente, sendo o primeiro a fazer uma divisão sobre o movimento pentecostal no Brasil pela utilização da palavra onda, porém essa referência foi utilizada inicialmente por David Martin, historiador norte-americano que formulou a “teoria das ondas”

As religiões protestantes que deixaram um legado histórico são definidas como igrejas históricas, as pentecostais não se inserem em tal nomenclatura. Dessa forma, segundo Antoniazzi (1994), o grau de dificuldade em pesquisar sobre a CCB está, além do pouco material escrito documentado, no fato de que os seus membros tendem a ser fechados às entrevistas. A primeira onda pentecostal do Brasil se refere à CCB e sua implantação no ano de 1910, quando se denominava somente por Congregação Cristã. Nesse primeiro momento, a Igreja foi enquadrada no rol do Pentecostalismo clássico, na leitura de Mariano (1999). Suas características fundamentalistas eram revivificadoras de atributos de total ascetismo e puritanismo. Os membros apreciam a crença predestinacionista (de origem calvinista) da maior força de expressão nos dons do Espírito Santo, com efeito exclusivista, de radical sectarismo e anticatolicismo. Além disso, seguiam seu ideal de antiguidade/pioneirismo, fazendo-se diferente das igrejas do mesmo movimento pentecostal no que tange à forma teológica, eclesiológica, institucional, social, estética e política. Até início do século XIX, a Igreja Católica, tida como religião oficial do Brasil, passou a não ser a única a ter liberdade religiosa, pois foi permitida aos outros credos em virtude de interesses políticos. Para Monteiro (2010), tal liberdade não resultou de lutas ou reivindicações locais, mas ocorreu por exigência da Inglaterra. Quando, por ocasião da invasão francesa em Portugal, a corte lusitana se refugiou no Brasil sob a proteção da armada britânica. Nessa ocasião, diversos acordos foram firmados entre aquele país e Portugal e dentre eles constava a liberdade de culto, período denominado de “protestantismo étnico”. No contexto do Protestantismo histórico, na leitura de Freston (1993, p. 43), o território brasileiro, em meados do século XIX, foi envolto pelo Protestantismo de imigração. A concepção era de igreja imigratória, de deixar seu espaço físico, geográfico e político e assumir em terras estrangeiras características fundantes de etnias próprias. Um grupo de pessoas de traços culturais tradicionais que se identificam com seus pares abarcou as dimensões da nova pátria.

Nesse período, ao norte dos Estados Unidos, acontecia um grande mover religioso, conhecido por movimento de santidade de várias denominações religiosas. O surgimento do Pentecostalismo se fez presente e aportou para as missões protestantes 3 . A abordagem histórica serve como forma de situar o tempo e o espaço de situações antagônicas. Os movimentos em localidades distintas deram suporte para o nascimento do Pentecostalismo e, por conseguinte, ao início da CCB e sua trajetória no Brasil. Traçando um estudo genealógico da origem do Pentecostalismo nos Estados Unidos, por volta do ano de 1906, a descrição de Antoniazzi (1994) remonta a história ao avivamento herdado e descendente do metodismo wesleyano do século XVIII. Conceituado pela obra da graça, diferentemente da salvação que Wesley4 , intitulava de “perfeição cristã”. O movimento de santidade cristã e da experiência do “batismo nas águas”, além de perpassar por várias denominações, produziu pequenos grupos separatistas chamados de holiness. Entre esses grupos, surgiu o Pentecostalismo, incluindo igrejas e líderes do movimento de santidade que foram de grande influência para o nascimento da Congregação Cristã. Mariano (1999) aponta uma diferença das igrejas históricas para as pentecostais. Estas últimas acreditam que Deus, por intermédio do Espírito Santo e em nome de Cristo, continua a agir hoje da mesma forma que o Cristianismo primitivo, curando enfermos, expulsando demônios, distribuindo bênçãos e dons espirituais, realizando milagres, falando com seus servos, e concedendo infinitas amostras concretas de Seu supremo poder e de Sua inigualável bondade. Nessas crenças, Monteiro (2010) aponta que muitos missionários surgiram e desbravaram-se pelo mundo levando suas convicções. William H. Durham, pastor da Igreja Batista de Chicago, frequentou várias reuniões na Azuza Street, que à época foi o marco do avivamento pentecostal do próprio reavivamento da Rua Azuza. Posteriormente, o movimento se direcionou para Chicago, cidade norte-americana de maior expressividade pentecostal. Seria por Durhan que Franscecon (precursor

O chamado “protestantismo de missão” - congregacionais em 1855, presbiterianos em 1859, metodistas em 1867 e batistas em 1882. 4 John Wesley eclesiástico da Igreja Anglicana foi o precursor do movimento de avivamento espiritual cristão definido por metodismo, ocorrido na Inglaterra do séc. XVIII, com ênfase na relação íntima do indivíduo com Deus, pautada na ética e moralidade cristã


da CCB) conheceria o movimento e se fundamentaria nele para a construção do Pentecostalismo brasileiro. A trajetória da origem da Igreja pesquisada está totalmente ligada ao de seu fundador emigrado Luis Francescon5 . Nasceu em um lar católico, no dia 29 de março de 1866, em Cavasso Nuovo, província de Údine, na Itália. Contudo, muito embora tenha sido criado na cultura católica sua pertença era, em face de depoimento de sua irmã, apenas nominal, por não ser católico praticante (MONTEIRO, 2010). Em decorrência da instabilidade do país de nascimento, pelo período de guerras, houve um considerável aumento de imigrantes em busca de uma vida melhor em locais longínquos. Monteiro (2010) atesta sobre a trajetória de Franscescon: aos 15 anos foi para Hungria procurar trabalho, e em seguida voltou para Itália, cumpriu serviço militar e com quase 24 anos emigrou para os Estados Unidos. Chegou em 3 de março de 1890 e foi morar em Chicago, cidade com numerosa colônia italiana. Naquele mesmo ano, converteu-se ao Protestantismo e, em 1892, participou da criação da Igreja Presbiteriana Italiana de Chicago. Ele dá o seguinte depoimento: No mesmo ano (1890), ouvi o Evangelho por meio da pregação do irmão Miguel Nardi. Em dezembro de 1891 tive do Senhor a compreensão do novo nascimento. Em março de 1892, com o grupo evangelizado pelo irmão M. Nardi e algumas famílias da fé “Valdense” foi criada nesta cidade a primeira Igreja Prebisteriana Italiana, sendo o Sr. Filippo Grilli, pastor. Eu fui eleito um dos três diáconos, e após alguns anos, ancião (MONTEIRO, 2010, p. 128). Sua experiência inicial serviu de base para outras mudanças em sua vida. Em 1903, Francescon foi batizado por imersão se desligando da Igreja Presbiteriana, pois é sabido que a mesma pratica batismo de aspersão (ato de borrifar/respingar água). Em decorrência do seu batismo nas águas, entendeu estar no seguimento das Escrituras Sagradas, aderindo-se às características pentecostais, cuja marca principal é o ato de falar em línguas. A trajetória do fundador da CCB abrange seus relatos pessoais escritos em cartas, seus primeiros contatos do movimento de santidade que assolou os Estados Unidos, dos primórdios pentecostais de santidade e fervor no Espírito Santo, e do 5 Aliás, acerca de seu nome, existem grafias diferentes, como Luigi, Luiz, Louis (MONTEIRO, 2010)

expansionismo. O comportamento de Franscescon é analisado por sua motivação em se fidelizar na denominação pesquisada. Por meio de Franscescon, houve disseminação, implantação e expansão6 da primeira onda pentecostal em terras brasileiras. O movimento aqui partiu do eixo paulista, inicialmente limitado aos protestantes de missões, e expandiu-se para todos os continentes, tendo em vista o mover e o avivamento norte americano. Diante disso, é possível contextualizar a formação e a fundação da CCB que foi marco da primeira onda discorrida anteriormente. Nota-se que sua fundação não foi resultado de uma ação missionária, e sim de uma missão pessoal, financiada pelo próprio fundador da agremiação primeva no Brasil de características pentecostais. 

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