domingo, 8 de dezembro de 2019

Se sairmos da CCB, para onde iremos nós?


E dizia: Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido.Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele.Então disse Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos?Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente.

João 6:65-69

No começo tudo é muito belo. Ambiente limpo, claro, Iluminação perfeita, paredes branquinhas. Mulheres sentadas de um lado com véu branco na cabeça, homens do outro lado trajando terno e gravata. No meio da igreja, uma orquestra. Lindos hinos sacros. Pessoas bem vestidas. Reunião agradável. A pregação trás conforto, promessas de dias melhores e milagres inimagináveis. O testemunhado (antigamente chamado de criatura) começa a observar todo aquele movimento e aos poucos vai sendo convencido de que aquela é a verdadeira graça de Deus, a gloriosa Congregação Cristã no Brasil. Ali os pastores, que são chamados de anciãos, não recebem salárioA Igreja não possui ligação com partidos políticos, nem possui programas de rádio e televisão. Mesmo assim, batizam-se mais de 100 mil pessoas por ano "nessa obra". Tudo é maravilhoso. Como pode não ser esta a verdadeira obra de Deus? Então, após algumas semanas ou meses congregando, a pessoa é convencida a assistir um batismo. Não que ela vá se batizar, claro que não, afinal essa obra não é de quem quer, nem de quem corre, mas de quem Deus usa de misericórdia, como o povo da CCB costuma dizer. Ela só vai assistir, e se Deus chamar, ela pode então se batizar. Caso contrário, não. Este é o apelo batismal tradicional da CCB. Por fim, a pessoa sente o chamado e finalmente passa pela pelas águas do santo batismo da CCB. A esta altura do campeonato, ela já começou a assimilar a doutrina da igreja, a única e exclusiva verdadeira graça de Deus. A única cujo batismo conduz à vida eterna. A única com a verdadeira doutrina cristã apostólica. 

O novo convertido fica empolgado. Ele passa então a congregar todos os dias. Visita diferentes congregações de sua região. Atravessa a cidade para conhecer a irmandade de outros bairros. Ele ou ela começa a pregar "essa graça" para todos os seus conhecidos e familiares, afinal estamos nos fim dos tempos, e somente aqueles que estão dentro da arca CCB irão se salvar. Culto após culto, palavra após palavra, hino após hino. Então acontece o clímax da fé CCBiana: A pessoa recebe o dom do Espírito Santo com evidência de novas línguas. A confirmação do Consolador. A pessoa fica então ainda mais certa de que está no caminho certo, que somente aquela porta conduz à vida eterna, e que todas as outras igrejas são falsas. Assim nasce um novo adepto da Congregação Cristã no Brasil.

MAS NEM TUDO PERMANECE IGUAL POR MUITO TEMPO...

Com o passar dos meses e dos anos, aquele fervor inicial começa a receber novos inputs. A pessoa começa a perceber coisas que não eram tão evidentes no começo de sua fé. Com o passar dos meses, congregando na mesma comum e em outras congregações, o fiel percebe que várias pregações da palavra se repetem com grande frequência. "Aquele cooperador já não havia pregado 11 de Aos Hebreus há menos de 3 semanas? Ah, mas deve haver alguma razão para Deus ter revelado a mesma palavra em tão curto período de tempo"...passam-se mais alguns dias, novamente o pregador lê a mesma palavra. Aos poucos, a pessoa vai entendendo como funciona o sistema. Salmos 23 é uma das palavras favoritas dos pregadores, não que eles queiram, longe disso, afinal é Deus quem revela. O mesmo se pode dizer de Aos Romanos 8:31: Se Deus é por nós, quem será contra nós?! Uma outra palavra revelada cliché. A pessoa então começa a ter algumas dúvidas, mas não as manifesta com medo de estar pecando contra o Espírito Santo. Ela então vai no Google e faz uma pesquisa de quantos capítulos a Bíblia possui, e aprende que há quase 1200. No entanto, ela se dá conta que na CCB as pregações da Palavra são sempre as mesmas. Em suas contas, deve girar em torno de 30 ou 40 capítulos ou passagens bíblicas que se repetem como num sistema de rodízio. A pessoa então reflete que, se a palavra é revelada, por que Deus só revela uma pequena parte das escrituras nos cultos? Então o fiel começa a ter ainda mais dúvidas, e passa a examinar outros pontos da dita palavra revelada...

O crente começa a analisar que, desde que começou a congregar, ouviu várias promessas dos púlpitos da Congregação, feitas muitas vezes por pregadores eloquentes. Estranhamente, essas promessas, também chamadas de profecias, nunca eram direcionadas a ninguém em específico, sendo sempre direcionadas a "alguém" em geral: 
  • "Deus me faz claro que tem alguém aqui nessa noite que veio buscar a palavra para fazer um negócio. Deus manda te dizer: pode fazer que é da minha vontade. Eu serei contigo";
  • "Deus me mostra que alguém está passando por uma prova espiritual, mas Deus manda te dizer que é contigo e que irá te libertar desse espírito maligno";
  • "Alguém entrou aqui nessa noite perguntando se é da Minha vontade esse casamento. Eu te digo, Meu servo: Pode marcar a data que Eu aprovo essa união";
Dentre muitas dessas pregações, a pessoa sentiu que em várias delas Deus estaria falando com ele ou ela em sua necessidade. Mas dia após dia, semana após semana, meses, anos se passaram e a profecia não se cumpriu. Algumas dessas profecias inclusive já se foram com a morte de alguém que se esperava libertação, com a resposta negativa por uma vaga de emprego naquela empresa ou promoção no trabalho, pela decepção de ter um namoro desfeito com alguém que a palavra havia confirmado o casamento...

Além das pregações repetitivas e das falsas profecias, a pessoa também nota que muitos testemunhos são fantasiosos, sem fundamento e que carecem inclusive de lógica. Mesmo assim, os cooperadores, anciães e toda a irmandade manifesta línguas e dão glórias quando ouvem tamanhas histórias.

Outras coisas começam então a não fazer sentido para aquele crente: 
  • Por que eu tenho que usar roupas novas na Santa Ceia, quando o princípio do cristianismo é a humildade? 
  • Por que eu não posso usar bermudas, mas é tolerável que as irmãs usem saias mostrando as pernas? 
  • Por que não posso usar barba, se não há nenhuma proibição bíblica sobre o assunto? 
  • Porque eu preciso usar terno e gravata para ir à igreja em dias de extremo calor? Qual é a relação dessa vestimenta com as palavras de Cristo? 
  • Por que as irmãs não podem tirar o excesso de sobrancelhas? 
  • Por que não tingir os cabelos sob a alegação de que isto é vaidade, quando todos estão indo congregar com roupas novas, perfumes importados, irmãs desfilando com véus de renda caríssima? 
  • Se é Deus quem revela cooperadores, diáconos e anciões para o ministério, porque mais de 90% desses são parentes e amigos dos anciães mais influentes da região?
E assim suscetivamente. Mas à esta altura, a pessoa já está envolvida demais no sistema. Ela já sabe tocar um instrumento, já está familiarizada com a letra da maioria dos hinos. Todo o seu círculo de amizade está dentro da CCB. Muitos dos seus parentes também. Então a pessoa começa a pensar: Isso não faz mais sentido para mim. Eu não acredito no sistema como ele é. Não acredito mais nessas manifestações de línguas estranhas. Não acredito mais nessas pregações repetitivas e óbvias. Não acredito mais que esse é o caminho que conduz a Deus. Não acredito mais na revelação da palavra. Não acredito mais na revelação do ministério. Não acredito mais que Deus confirma casamentos, mesmo porque o próprio ministério desfez essa crença em uma circular no ano de 2007. 

Mas, e agora? Para onde ir? Não tenho mais amigos lá fora. Eu amo tocar na orquestra / meu órgão. Tenho inúmeros ternos / vestidos e só tenho a igreja para usá-los. Não tenho muitos eventos sociais para frequentar. O que será dos meus sábados e domingos à noite? Onde eu encontrarei outro grupo com o qual eu me identifique novamente? E como será quando eu encontrar os irmãos da minha comum na rua, será que continuarão me saudando com a paz de Deus ou vão mudar de calçada para não falar comigo? 

E assim,  aquela pessoa se vê descrente no sistema e sem rumo. O que fazer nessa situação? Ele ou ela continua no sistema, pura e simplesmente por não conseguir se ver fora dele. É exatamente assim como as seitas prendem as pessoas dentro delas. Fazendo com que elas não consigam se enxergar fora do matrix

Esse sentimento permeia as almas não apenas dos crentes da CCB, mas também de frequentadores de outras seitas, como as Testemunhas de Jeová, os Mórmons e os Adventistas. Estas denominações fazem a pessoa crer que somente dentro delas as pessoas terão conforto e alento. Elas tomam o lugar de Jesus, quem tem palavras de vida eterna, conforma a passagem bíblica do começo dessa postagem, para elas próprias. Assim, as pessoas associam que abandonar o grupo é abandonar o próprio Deus e seu Filho.

Mas há vida lá fora

Em algum momento essa pessoa terá de ser fiel a suas convicções, e terá de tomar posição: Perder o apoio dos parentes e amigos que estão no sistema, ou serem realmente elas mesmas? Até que ponto vale a pena permanecer num sistema de crenças limitador e exclusivista, apenas para ter um círculo social? Até que ponto vale a pena tocar um instrumento dentro de uma organização que se auto proclama a graça de Deus? Até que ponto vale a pena vender nossa verdadeira liberdade por uma falsa liberdade "concedida por anciães" para chamar hinos, tocar e testemunhar nos cultos?

Pense por si próprio, chegue a uma conclusão e ponha seu plano em ação. Seja livre!! Exerça sua real liberdade cristã!

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