E
eu provo. Mas, para isso, precisamos entender antes de mais nada que
estou usando aqui o conceito de “amor” da Bíblia e não o da sociedade
secular e romantizada em que vivemos. E como um dos conceitos
hermenêuticos elementares no estudo das Escrituras é que “a Bíblia
explica a si mesma”, vamos ao texto sagrado desencavar qual é o
conceito bíblico de “amar”. O versículo epicêntrico da Bíblia sobre o
assunto é o bom e velho João 3.16: “Porque Deus tanto amou o mundo que
deu o seu Filho Unigênito para que todo o que nele crer não pereça,
mas tenha a vida eterna”. Vamos então destrinchá-lo.
Primeiro:
Deus amou o mundo. E quem é o mundo? São absolutamente todas as
pessoas que o rejeitaram, desobedeceram, que foram seus inimigos, que
lhe viraram as costas. Ou seja: todo aquele que peca. Ou seja: todo
mundo! “Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm 3.23).
Então o que Jo 3.16 nos mostra, primeiro, é que Deus amou pessoas que
o desprezaram, que lhe fizeram mal, que falaram mal dele, que
roubaram dele, o caluniaram e fizeram todo tipo de desgraça contra
Ele.
Aí,
de repente, Deus decide fazer por esse grupo de bilhões e bilhões de
pessoas algo impresionante: abre mão de sua posição confortabilíssima
para ajudar cada um. Se você prestar atenção, verá que o Filho estava
muito bem, obrigado, em sua glória celestial e não precisava ter
mexido uma palha por essas pessoas. Mas Ele foi além: “Seja a atitude
de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus não
considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas
esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo tornando-se semelhante aos
homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e
foi obediente até a morte, e morte de cruz” (Fp 2.5-8).
Em outras palavras: o amor abre mão do seu conforto para ajudar outras pessoas.
E
isso para quê? “Para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a
vida eterna”. A questão aqui é que aquele bando de miseráveis não
merecia a vida eterna. Mereciam, em português bem claro, arder por toda a
eternidade no fogo do inferno. Mas Deus chega e mostra outro aspecto
do amor: dá a eles algo que não merecem. E aqui nos deparamos com as
cinco letras mais lindas do Evangelho: GRAÇA. Pois isso é a essência da
graça: AMOR.
Qual é a conclusão a que chegamos a partir disso tudo? Que AMAR significa abrir mão do seu conforto para fazer coisas boas por quem te fez coisas ruins. Simples assim.
E…você faz isso?
Para
responder nós temos que aplicar o que dissemos acima a sua (e à
minha) vida: Pense em todas as pessoas que te desprezaram, fizeram mal,
te viraram o rosto, falaram mal de você, te roubaram, te caluniaram e
fizeram todo tipo de desgraça contra você. Não tem pressa. Esqueça
que você está na Internet e que aqui todo mundo só quer ler coisas
rapidinho. Invista tempo, vai valer a pena.
Pare.
Tire um tempo.
Pense
em rostos. Lembre de nomes. Recorde-se de situações. Gente que te fez
chorar, que te ofendeu, que te acusou injustamente. Que te molestou
sexualmente. Que roubou seu dinheiro. Que mentiu para todo mundo a seu
respeito. Que armou esquemas para te prejudicar e puxar o tapete. Que
fez tudo o que há de pior contra você. Pense. E, só depois de ter
lembrado de todas essas pessoas continue a ler, não tenho pressa
alguma.
Ainda tem tempo. Pense mais um pouco. Gente que te magoou feio. Você vai lembrar.
Ok.
Agora que você já deu nome e rosto aos bois, segundo passo: Deus saiu
de seu conforto e fez algo de bom por elas que certamente elas NÃO
mereciam. E eu, então, te pergunto: o que você já fez de bom por essas
pessoas de quem acabou de se lembrar? Pode pensar. Mais um tempo pra
ti.
Me
atrevo a dizer que você gastou muito tempo chorando pelo que elas te
fizeram, as denunciando, ou então metendo o malho nelas para outras
pessoas, falando ao maior número possível de pessoas o que elas lhe
fizeram. E até mesmo se vingando, pagando na mesma moeda. As odiando com
todas as suas entranhas! Eu garanto que você fez isso. E sabe por
quê? Porque é o que eu fiz. Muitas vezes. Paguei mal com mal. Paguei
com vingança. Com comentários depreciativos. Com minha natureza
humana.
Chegamos
então à questão inicial. Você ama o seu próximo? Pois já vimos que
AMAR significa abrir mão do seu conforto para fazer coisas boas por
quem te fez coisas ruins. Simples assim. Mas meu irmão, minha irmã,
concorde comigo que nós não fazemos isso.
Não fazemos.
E
com isso, simplesmente descumprimos o mandamento maior da fé cristã:
“Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?’ Respondeu Jesus: ‘Ame o
Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o
seu entendimento’. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas”. (Mt 22.36-40)
Aí
você pode até dizer: “Ah, mas Jesus era Deus, pra Deus é fácil amar
assim! Eu sou só um humano!”. Ao que Jesus de Nazaré te responde: “Um
novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros”. (Jo 13.34,35)
ÚLTIMAS PALAVRAS
Não
tem jeito. Eu não amo meu próximo segundo o modelo bíblico, fato.
Pois não abro mão de meu conforto, de meu tempo, de dizer que tenho
razão, de meu orgulho… para fazer o bem a quem me detonou. E, afirmo
sem medo de errar: você também não. Pois eu olho em volta e é o que
vejo, nas igrejas, no twitter, no Facebook, nos programas evangélicos
de TV, nas pregações de pastores anti-igreja da internet, na Igreja
Emergente…em todo lugar onde haja um coração manchado pelo pecado, em
todo lugar onde haja alguém que se chame cristão: nós somos vingtivos,
ofendemos, pagamos na mesma moeda. Não fazemos o bem a quem nos faz
mal. Não fazemos! Isso é um fato!
Ignoramos
solenemente o que Paulo diz em Romanos 12.14-20: “Abençoem aqueles
que os perseguem; abençoem, e não os amaldiçoem. Alegrem-se com os que
se alegram; chorem com os que choram. Tenham uma mesma atitude uns
para com os outros. Não sejam orgulhosos, mas estejam dispostos a
associar-se a pessoas de posição inferior Não sejam sábios aos seus
próprios olhos. Não retribuam a ninguém mal por mal. Procurem fazer o que é correto aos olhos de todos. Façam todo o possível para viver em paz com todos. Amados, nunca procurem vingar-se,
mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: “Minha é a vingança; eu
retribuirei” diz o Senhor. Ao contrário: “Se o seu inimigo tiver
fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber”.
Você já deu de comer ou de beber a quem te fez mal? Quantas vezes?
A BOA NOTÍCIA
Mas há uma boa notícia: é possível.
É
possível viver o mandamento maior. Comece preferindo o outro em
honra. Pondo em prática Filipenses 2.3b; “Humildemente considerem os
outros superiores a si mesmos”.
Mas, Zágari, como se faz isso?
Não
revide, abençoe. Não rebata, dê a outra face. Não se vingue, caminhe a
segunda milha. Não fale pelas costas, elogie o que há de bom em quem
só há coisa má. Só consegue amar o próximo da forma que Cristo espera
quem faz o que Ele fez diante de Pilatos: engole sapos. Se cala. Se
submete. Se humilha. É difícil? LÓGICO QUE É! E desde quando alguém
disse que seria fácil? Jesus disse: “Se alguém quiser acompanhar-me,
negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23). E
você acha que carregar uma cruz é fácil?
Em
outras palavras, só ama verdadeiramente o próximo quem contraria sua
natureza. Pois só quando você contrariar a sua natureza e injetar em
suas veias a natureza de Cristo é que você começará a amar o próximo
como a Bíblia ensina. Até lá…somos bons fingidores.
Paz a todos vocês que estão em Cristo
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