A Polícia Federal prendeu nesta quarta-feira (31) seis pessoas
investigadas na 62ª fase da Operação Lava Jato, que teve como alvo principal
o Grupo Petrópolis, empresa fabricante de bebidas.
O empresário Walter Faria, controlador do grupo, é considerado foragido.
A Lava Jato investiga o envolvimento de executivos na lavagem de R$ 329
milhões de 2006 a 2014, no interesse da Odebrecht. O dinheiro seria
proveniente de contratos com a Petrobras.
Segundo o Ministério Público Federal do Paraná, Faria tentou repatriar para
o Brasil quase R$ 1,4 bilhão que guardava em contas em ao menos oito países
pelo mundo, somente em 2017.
O valor, que despertou suspeitas de ilicitude, representa 1% de toda a quantia
repatriada pelo Brasil naquele ano, de acordo com a Procuradoria.
Há indícios de que a tentativa de regularização foi irregular e teria origem
em um esquema de sonegação com a burla de medidores de produção de
cerveja.
O produto seria vendido diretamente a pequenos comerciantes, em espécie,
mas os valores eram entregues a operadores ligados a empreiteira
Odebrecht, que utilizava a Petrópolis para lavar dinheiro.
Segundo o procurador da Lava Jato Roberson Pozzobon, quebra de sigilo de
emails dos investigados apontam movimentações recentes na tentativa de
transferir parte do dinheiro de um país para outro, o que motivou as ordens
9 Lava Jato apura esquema entre Grupo Petrópolis e Odebrecht em contratos da Petrobras - 31/07/2019 - Poder - Folha
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/07/lava-jato-apura-esquema-entre-grupo-petropolis-e-odebrecht-em-contratos-da-petrobras.shtml 3/5
de prisão. “Existe e ainda está em curso tentativa de dissimulação do
patrimônio auferido em práticas criminosas”, afirmou.
Na residência de um advogado, que atuava como contador do grupo, foram
encontrados R$ 250 mil em espécie, segundo o delegado da PF, Thiago
Giavarotti.
De acordo com a Procuradoria, os executivos da empresa eram grandes
operadores de propina, pois lavavam dinheiro em contas no exterior.
Uma das formas de lavagem ocorria por meio de doações eleitorais, de
acordo com as investigações. Os pagamentos somariam R$ 121,5 milhões de
2008 a 2014, em operações conhecidas como caixa três, em que se ocultam
os verdadeiros doadores.
“Como o grupo Odebrecht não queria aparecer, se valia de empresas satélite,
algumas delas ligadas ao grupo investigado nesta fase [Petrópolis]. Esses
valores eram entregues a empresas que faziam doações que são consideradas
legítimas, mas oriundas de caixa três”, disse o delegado Giavarotti.
Faria, de acordo com os investigadores, usou uma conta na Suíça para
intermediar o repasse de mais de US$ 3 milhões de propina relacionada aos
contratos envolvendo dois navios-sonda da Petrobras. Essa quantia teria
beneficiado políticos do MDB.
Essa fase da operação tem como foco apurar como foi feita a lavagem do
dinheiro para que a quantia chegasse às legendas.
O procurador Pozzobon ressaltou que a competência da investigação, que
estava com o Ministério Público Eleitoral de São Paulo, foi transferida para
Curitiba, já que o caso está relacionado ao esquema de propinas da
Petrobras. Além disso, não envolve caixa dois —que seria de competência da
Justiça Eleitoral—, e sim doações lícitas de dinheiro para partidos, mas com
dinheiro obtido ilicitamente.
“A gente está falando aqui de ilícitos de corrupção e lavagem de dinheiro
conectados com o macroesquema de corrupção na Petrobras. O dinheiro foi
empregado em diversas finalidades, inclusive pagamento de propina”, disse
Ainda segundo a investigação, três offshores foram utilizadas para a lavagem
do dinheiro da Odebrecht, somando quase US$ 107 milhões de março de
2007 a outubro de 2014. Paralelamente, o Grupo Petrópolis teria
disponibilizado pelo menos R$ 208 milhões em espécie à Odebrecht no
Brasil, entre junho de 2007 a fevereiro de 2011.
De acordo com a Procuradoria, em troca da lavagem de dinheiro e da
transferência de propina para agentes públicos, Walter Faria recebia dólares
no exterior e investimentos em suas empresas.
Para justificar as trocas, a Odebrecht realizava operações subfaturadas com a
Petrópolis, como a ampliação de fábricas e venda e aluguel de equipamentos.
A 62ª fase da Lava Jato foi batizada de Rock City (“cidade de pedra”, em
inglês), que remete ao nome do grupo investigado.
Em nota, o Grupo Petrópolis afirmou que os executivos da empresa já
prestaram anteriormente esclarecimentos sobre o assunto aos órgãos
competentes. “Sempre esteve e continua à disposição das autoridades para o
esclarecimento dos fatos”, diz o texto.
Já no final da manhã desta quarta-feira, Walter Faria teve o nome incluído na
restrição do Sistema de Tráfego Internacional. Segundo a PF, ele deixou a
residência antes da chegada dos policiais.
Também não foram encontrados pela PF Naede de Almeida, agente que
mantinha relacionamento antigo com Faria, e um dos sobrinhos do
empresário, Cleber da Silva Faria.
Os advogados de Cleber informaram nos autos que ele está de férias com a
família em Orlando (EUA) desde o dia 26 de junho e que retornaria ao Brasil
no próximo dia 5. Mas, com o mandado em aberto, antecipou a volta para
esta sexta-feira (2) e deve se apresentar espontaneamente à PF em Curitiba.
Naede, por sua vez, manteve contato telefônico com a PF informando que
retornaria a ligação após uma reunião com advogados, porém, não mais
entrou em contato.
Já estão sob custódia da polícia a secretária da diretoria do Grupo Petrópolis,
Maria Elena de Souza, outro sobrinho de Faria, Vanuê Faria, e o advogado
Silvio Pelegrini.
NAEDE DE ALMEIDA,já está preso?
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