domingo, 4 de agosto de 2019

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Lava Jato deflagra 62ª fase e tenta prender presidente do Grupo Petrópolis

Segundo a PF, empresa teria auxiliado a Odebrecht a pagar propina através da troca de reais no Brasil por dólares em contas no exterior. Cervejaria informou que executivos já prestaram esclarecimentos aos órgãos competentes.

A Polícia Federal deflagrou na manhã desta quarta-feira (31) a 62ª fase da Operação Lava Jato. Esta nova etapa mira o pagamento de propinas disfarçadas de doações eleitorais e operações de lavagem de dinheiro feitas pelo Grupo Petrópolis, da marca de cerveja Itaipava.
O presidente do Grupo Petrópolis, Walter Faria, é um dos alvos, mas até as 11h ainda não tinha sido localizado. Segundo o Ministério Público Federal, as irregularidades vinham sendo investigadas desde 2016, mas após a quebra do sigilo bancário dos investigados, notou-se que contas ligadas a Faria no exterior continuaram sendo movimentadas em 2018 e 2019.
De acordo com a PF, foram expedidos um mandado de prisão preventiva, cinco mandados de prisão temporária e 33 mandados de busca e apreensão. Até as 11h desta terça-feira, três pessoas tinham sido presas.
Segundo a investigação, o Grupo Petrópolis teria auxiliado a Odebrecht a pagar propina através da troca de reais no Brasil por dólares em contas no exterior (leia mais sobre a investigação abaixo).
As investigações da Lava Jato envolvendo o Grupo Petrópolis remontam a 2016, quando uma planilha com nomes de políticos e referência à cerveja Itaipava foi achada na casa do executivo da construtora Odebrecht Benedicto Junior.
Segundo delação do executivo, a construtora utilizou o Grupo Petrópolis para realizar doações de campanha eleitoral para políticos de outubro de 2008 a junho de 2014.
Em setembro de 2017, Walter Faria entregou à Polícia Federal planilhas com informações sobre repasses da empresa a políticos a pedido da Odebrecht. De acordo com os documentos, 255 doações foram realizadas somente nas campanhas de 2010 e de 2012, somando mais de R$ 68 milhões
Além da Itaipava, o grupo Petrópolis é dono de marcas de cerveja como Crystal, Lokal e Petra, além do energético TNT. O grupo tem sete fábricas em cinco estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Pernambuco e Mato Grosso.
O Grupo Petrópolis informou que "seus executivos já prestaram anteriormente todos os esclarecimentos sobre o assunto aos órgãos competentes. Informa também que sempre esteve e continua à disposição das autoridades para o esclarecimento dos fatos".

Lavagem de R$ 329 milhões

Segundo o Ministério Público Federal (MPF) informou nesta quarta-feira, as investigações apontam que Walter Faria e outros executivos do Grupo Petrópolis atuaram na lavagem de cerca de R$ 329 milhões de reais em contas fora do Brasil.
"As investigações apontam que o Grupo Petrópolis serviu como verdadeiro banco de propinas da Odebrecht" afirmou o procurador do MPF Felipe Camargo.
De acordo com as investigações, o Grupo Petrópolis disponibilizou R$ 208 milhões em espécie para o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht realizar movimentações no Brasil de junho de 2007 a fevereiro de 2011.
Além disso, o grupo doou R$ 121 milhões para campanhas eleitorais entre 2008 e 2014 a pedido da Odebrecht com a cervejaria.
Em contrapartida, além de repassar valores para contar do Grupo Petrópolis fora do país, a Odebrecht investia em negócios do grupo. Segundo o MPF, a construtora fazia ampliações em fábricas da cervejaria com obras subfaturadas.
A investigação ainda aponta que Faria usou contas na Suíça para intermediar o repasse de mais de 3 milhões de dólares de propina relacionadas aos contratos dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000.

Repatriação de R$ 1,4 bilhão

Os investigadores apontam ainda que Walter Faria usou o programa de repatriação de recursos de 2017 para trazer ao Brasil, de forma ilegal, cerca de R$ 1,4 bilhão que foram obtidos de forma ilícita.
Segundo o MPF, algumas dessas contas receberam valores de contas controladas pela Odebrecht.
De acordo com a investigação, foram identificadas pelo menos 38 empresas offshore distintas com contas bancárias controladas por Faria na Suíça, e mais da metade delas permaneciam ativas até setembro de 2018.

Mandados em 15 cidades de 5 estados

Os mandados são cumpridos pela PF em 15 cidades diferentes e foram expedidos pela 13ª Vara Federal de Curitiba. A nova fase foi batizada de Rock City.
Na casa de um dos presos, um advogado ligado à cervejaria, a PF encontrou R$ 240 mil em espécie. Os outros alvos de mandados de prisão são pessoas ligadas à Faria e funcionários da cervejaria, segundo a PF.
Em São Paulo, foram cumpridos mandados em Boituva, Fernandópolis, Itu, Vinhedo, Piracicaba, Jacareí, Porto Feliz, Santa Fé do Sul, Santana do Parnaíba e São Paulo. Também foram cumpridos mandados em Cuiabá (MT), Cassilândia (MS), Belo Horizonte (MG), Petrópolis e Duque de Caxias (RJ).

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